Hino da Criação (Ṛgveda, 10.129)

Hino da Criação (Ṛgveda, 10.129)

não era ente nem não-ente outrora
não era céu nem abóboda além
que abrigo abarcava o que?
que era densa água não penetrável?

nem morte nem não-morte naquele tempo
nem dia nem noite era aparição
auto-sustente respirava sem sopro o uno
além dele nenhum outro não era

era treva frente treva oculta
era água tudo irreconhecível
era vácuo coberto de vazio
de máximo calor nasceu o uno

sobre ele convergiu anseio
jorro primordial da mente
do não-ente ao ente um elo obtido
veementes empenharam no coração os sábios

entre eles tira horizontal estendida
o que abaixo era e o que acima era?
criadores eram e poderes eram
abaixo natureza e acima intenção

quem sabe que aqui pode anunciar?
como e onde acontecida criação
depois do fluxo primordial os deuses
quem soube o que existiu além?

se a criação surgiu ou não
e se não e ela foi criada
testemunha no alto céu
ele mesmo sabe ou não sabe?

 

Publicado originalmente em  Celebração do mito no Gītagovinda de Jayadeva – apresentação e tradução do poema sânscrito segundo sua relação com as narrativas épicas”, dissertação de mestrado, FFLCH-USP, 2004 [João Carlos Barbosa Gonçalves].

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