Lal Ded – poeta extática da Caxemira

No século XIV, viveu na Caxemira, a santa, yogini, poeta conhecida como Lal Ded, ou Lalla Ded e Lalleśvarī. Depois de renunciar à vida num casamento tradicional, ela foi iniciada no tantrismo monista da Caxemira. Muitas são as yogini’s que viviam em êxtase, iniciadas em várias das escolas místicas indianas, porém poucas são as que ficam registradas fora do âmbito dos renunciantes, visto que nem todas produziram – como Lal Ded – uma grande obra poética transmitida ao longo dos séculos. Diz-se que um terço dos provérbios da Caxemira podem ter origem em seus dizeres.

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Relata-se que Lal Ded caminhava nua, cantando, declamando seus ensinamentos, que, em certa medida, atingiram profundidade superior aos de seus mestres. Enquanto a maior parte dos santos e santas da Índia entram em estado de identidade com seu deus, Lal Ded vivia absorvida no absoluto, não personificado, muito em conformidade com a visão metafísica profunda do Śivaísmo da Caxemira. Esse estado é recorrentemente descrito por meio da linguagem poética com que ficaram registrados os seus poemas.

Um dos poemas atribuídos a ela é o que traduzo as seguir (do inglês) :

Meu mestre ensinou apenas uma lição:

“Olha pra dentro e fixa na profunda presença”.

Guardando este preceito em meu coração,

em plena nudez dei início à minha errância.

Para conhecer outras mulheres extáticas da Índia, o livro Female Ascetics in Hinduism, de Lynn Teskey Denton, que me serviu de fonte, é uma boa orientação.

Há boa quantidade de informação online sobre Lal Ded, entre elas o livro “Lal Ded – the Great Kashmiri Saint-Poetess, que está disponibilizado por inteiro neste endereço: http://ikashmir.net/lalded2/index.html

Lal Ded: The Great Kashmiri Saint-Poetess

Lal Ded: The Great Kashmiri Saint-Poetess

5 thoughts on “Lal Ded – poeta extática da Caxemira

  1. João, obrigada de novo. Que bom ver você falando dela.
    Meu professor de yoga comentou da Lalla (tb conhecida como Lal Ded), no ano passado.
    E ela despertou meu interesse.
    Obrigada pela dica dos livros.

    • Olá, Christine, que alegria saber que você já tinha ouvido falar de Lalla! Alegria também ter você como leitora. Apareça sempre. Shantih!

  2. Oi, João, cá estou, entre uma redação e outra, no meu “momento confessionário” de hoje! A coisa já é atávica!… Acho que a terapia analítica jamais teria feito tanto sucesso no ocidente se não tivéssemos sido previamente condicionados à confissão… rsrs
    …fico imaginando se seria possível saber quem seríamos hoje se o nosso contato com toda a potência feminina de nosso mundo não tivesse passado a nos assustar e não tivesse sido cultural e psiquicamente reprimida… Será que havia outro caminho? Será que não poderíamos ter seguido sem “a vergonha da nudez”?

  3. Olá, descobri este blog agora. É sempre bom encontrar outros admiradores de Lalla. Existe uma tradução em português (feita por mim a partir do Inglês) da poesia da Lalla e editada em Portugal há uns anos. Deixo aqui uma amostra que publiquei num blog : http://www.etudogentemorta.com/2011/04/divina-nudez/

    Se me quiser contactar será melhor usar o email que deixo no registo.

    • Olá, Marta, que surpresa boa ver tuas traduções da nossa querida Lalleshvari!
      Fiquei muito feliz e grato com teu contato. E que nos mantenhamos conectados.
      Um abraço!
      João

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